Duas semanas atrás eu publiquei um preview de filmes agendados para chegar aos cinemas ainda no primeiro semestre. Nem deu tempo de respirar e o jogo mudou de novo. Na verdade, é o mesmo jogo: mesmo com o começo da vacinação ao redor do planeta, a pandemia do coronavírus ainda deixa o mundo em estado de alerta. Os cinemas continuam sofrendo com as medidas restritivas. Para ter uma ideia, o último filme de ação com Liam Neeson, “The Marksman”, liderou as bilheterias americanas com pálidos US$ 3 milhões em caixa. Nenhum otimismo por parte dos estúdios aguenta a realidade dos cinemas vazios.
Não é nenhum espanto, portanto, que os responsáveis por “007 – Sem Tempo Para Morrer” tenham escolhido adiar mais uma vez a última aventura de Daniel Craig como James Bond. Agendado para o começo de abril, o filme de Cary Fukunaga saltou para 8 de outubro nos Estados Unidos em seu terceiro adiamento em dez meses. É um investimento de alto risco. O filme custou cerca de US$ 200 milhões e precisa de números globais polpudos para recuperar o investimento. Sem o colchão de um serviço de streaming, como Disney+ ou HBO Max, manter o pause pressionado continua sendo a estratégia mais sensata.

DANÇA DAS CADEIRAS
A mudança de data de “Sem Tempo Para Morrer”, primeiro grande filme a reagir à pandemia ano passado, já causou um efeito cascata. “Anômimo”, filme de ação com Bob Odenkirk marcado para fevereiro, saltou para abril. “Noite Passada em Soho”, de Edgar Wright, trocou sua data em maio por outra mais confortável em outubro. “Cinderella” passou de fevereiro para julho. “Ghostbusters – Mais Além” deixou junho e agora deve ser lançado em novembro. A adaptação do game “Uncharted”, com Tom Holland, ficou para fevereiro do ano que vem.

É prudente esperar novas mudanças nos próximos dias. A essa altura começo a achar improvável que “Velozes & Furiosos 9” mantenha sua data em maio. Não postaria também na manutenção de “Um Lugar Silencioso Parte II” em abril. “The Many Saints of Newark”, um prólogo para a série “The Sopranos”, já havia adiado sua estreia de março para setembro.
O STREAMING GANHA FORÇA
O cinema foi o segmento da indústria que sofreu um baque forte das restrições impostas por conta da pandemia. A operação longe do natural acelerou mudanças inevitáveis na indústria, como a ascensão dos serviços de streaming. Mesmo com a liderança da Netflix, que já atingiu 200 milhões de assinantes em todo o mundo, serviços como Disney+ e HBO Max surgem como alternativa a seus conglomerados. “Mulan” e “Soul” abraçaram a plataforma do estúdio do Mickey e saltaram os cinemas. A Warner já anunciou que dezessete de seus lançamentos em 2021 serão simultâneos em cinema e em streaming.

É uma forma de minimizar o prejuízo e manter a engrenagem funcionando. Estúdios que não possuem plataforma própria, como Paramount e Sony, seguem buscando alternativas, priorizando lançamentos modestos (como o recente remake de “Jovens Bruxas”) enquanto o mundo não volta a girar normalmente. 2021 ainda será um ano duro, mesmo com a esperança renovada pela vacina. De minha parte, vou evitar escrever previews até o solo ficar mais firme.

Por: Roberto Sadovski
Fonte: Uol.com.br
Imagem: Universal