Pelas primeiras cores que surgiram, mostravam que a estação parecia que ia ser quente. O vermelho vivo e forte dos primeiros pores-do-sol do verão mostrava que alguma coisa diferenciada estava prevista para tornar essa estação da saúde e alegria inesquecível. Guardei quarentena de 8 de março até o Natal, respeitando praticamente todos os protocolos estabelecidos pelas autoridades, pois, sendo grupo de risco, não quis desafiar a sorte, já que não sei se tenho tanto assim para apostar, apesar dos diversos tipos de tentações e desafios dos amigos. Eles sempre querem colocar em xeque minha coragem e não minha inteligência. Seguindo os meus princípios, resolvi abrir meu verão com as cores mais brandas de um espumante BRUT Aliança e um ceviche, recolhido em casa, esperando cumprir a tradição de um “tender bolinha” com um tinto, assim cumpriria meu ritual gastronômico do Natal. Sábado, 26/12, as cores do meu verão, que tinha certeza de que seriam mantidas na suavidade da espera da vacina, começaram a aumentar para uma temperatura que a cidade está acostumada a viver nessa época do ano, na expectativa dos eventos de verão, todos de alta fervura. Foi exatamente nesse clima que vi a minha pretensão de entrar o verão em clima ameno ir por água abaixo, ao virar estatística de infectado nessa 2ª onda de Covid. 28 de dezembro. É bom lembrar que 2021 chegou, mas 2020 não foi embora. Tá aí coladinho com a Covid, sem distanciamento, sem máscara e sem vacina. Nós sabemos como foi o fatídico ano de 2020 e como estamos entrando com 2021. Nós sabemos o ano que poderemos ter e suas dificuldades, Amenizá-las, depende de nós mesmos e da nossa vontade de fazer um ano diferente. Mas, o pior é que estamos começando um novo ano fazendo coisas piores do que no ano que terminou. Janeiro: festas, aglomerações cada vez maiores, pois a cor do verão chama. Turistas chegando de todos os lados à procura do roteiro Salvador tradicional: festa, sim, o cardápio de todos os anos que atraem os turistas para a cidade, fazendo aquecer a sua economia. Mas, com eventos e festejos proibidos e cancelados, onde se escondeu o plano B que possa compensar a falta desses geradores de riquezas para girar a roda da economia da cidade que vive desse momento verão que nos é oferecido com tanta generosidade? Do secretário que deixou o cargo não vi nenhum projeto compensatório que viesse suprir a falta dos tradicionais eventos. Pela imprensa tomei conhecimento de uma declaração do novo Secretário Municipal de Cultura e Turismo, em que dizia que “prega para o turismo a retomada com protocolos de segurança”. Acho que não disse nada mais vago do que já foi dito para o TRADE, já que o que mais o trade tem feito, com sacrifício e maestria, é criar e seguir protocolos. Será que o novo secretário traz o olhar do setor de transporte para o turismo? É diferente arrumar horários de linhas de ônibus e trazer turistas e receitas para a cidade. Ele sabe disso, com a boa experiência que teve no MTUR. Com ou seus rígidos protocolos do setor de transporte, ele sabe que precisa chegar chegando com projetos, soluções diferenciadas, para compensar o verão e o Carnaval, ausências e prejuízos que o trade está acumulando através do ano. Do Estado, nada como contemplar o eterno silêncio através das badaladas dos sinos das igrejas e mergulhos profundos nas sucatas afundadas na Baía de Todos os Santos, sem dizer o que quer nem o que pensa sobre questões importantes como as que a Bahia atravessa. O ano de 2021 chegou e vai permanecer entre nós com todas as dificuldades e desafios que a Covid nos impõe. Com vacina, sem vacina, com Carnaval, sem Carnaval, com turistas, sem turistas, acontece que vamos conviver em nosso dia a dia pedindo soluções para os problemas que vão nos exigir fazermos um ano diferenciado ou não. Uma cidade com apelos de verão, como tem Salvador, vai precisar mais do que apenas contemplar o verão à distância. Tudo com mais responsabilidade e cuidado para que o número de aglomerações seja reduzido, para não correr o risco de aumentar o número de infectados, já que existe a chegada dessa nova “cepa” e, por consequência, aumento de letalidade. Precisamos de gente, cores, festas, eventos, responsabilidades, para esses momentos não se transformarem em tragédias por falta do mínimo de sensibilidade para evitar catástrofes… Sim, estamos caminhando para catástrofe não medida, em que não enxergamos o perigo iminente que se aproxima neste verão. Gritar, mostrar, dizer, a essa altura não alcança mais o senso crítico das pessoas, principalmente daquelas que, desde o início, negam a existência da doença, da sua capacidade de disseminação e competência letal. Não precisa que tenha um amigo entubado ou morto. Quem sabe precise de um defunto saindo da sua casa, é a forma mais rude de dizer a verdade. Depois que você passa por esta experiência sem saber onde ela vai desaguar, o prazer de ver o pôr-do-sol novamente, de saber que vai ter uma nova chance de viver com quem ama, fazendo o que dá prazer, é indescritível e tem outro sabor. Apesar de não se ter certeza de que estou 100% pela forma traiçoeira com que essa doença ataca, a sensação de renascimento é muito forte. Hoje eu chego na janela diversas vezes ao dia, olho para o céu, para o horizonte, para o mar e agradeço a Deus por ter me dado essa nova chance, quantos não puderam ter? Eu vi algumas delas passarem na minha frente numa maca que, por certo, era sua última viagem. Mas, se Deus nos deu essa nova chance, peguemos com toda força, fé, coragem, determinação, persistência e vamos viver intensamente essa única vida que recebemos. Nossa profissão nos chama e devemos continuar a caminhada mostrando o que ainda precisamos fazer pela retomada do turismo com segurança, eventos que não destruam a vida das pessoas. As estatísticas estão mostrando que o crescimento de ocupação dos hotéis tem existido, mas de forma orgânica, pois não existe esforço de comunicação ou promoção para trazer turistas para a Bahia. Dezembro, com 36,8% ainda está longe da necessidade de chegar ao fim desse verão de forma satisfatória, que minimize os prejuízos causados pelos 10 primeiros meses do ano, ainda mais sem projeto de promoção para janeiro, que já vai no meio. Só dois meses para recuperar dez, e com todas as ameaças que estão rondando. A falta da vacina, de planejamento para vacinar a população, é a mais grave, pois as aglomerações vão trazer mais doença para a população, esticando esse martírio para mais adiante, sacrificando cada vez mais o mercado turístico. Como disse, recebemos 2020 sem saber o que ele trazia de ruim para a população. Mas estamos recebendo 2021 sabendo o que nele está contido, e cabe a nós dizer se queremos um ano diferente, igual ou pior do que o que ainda estamos vivendo: 2020 ainda não acabou
• Gorgônio Loureiro – Jornalista MTB/BA- 5349
Fonte: Portalturismototal.com.br
imagem: webarcondicionado.com.br
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