Promovido pelo Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), o I Seminário de Economia Criativa do Tocantins consolidou debates essenciais sobre a contribuição e o impacto da cultura na economia e na sociedade. O evento, que teve painéis e palestras na última sexta-feira, 29, e sábado, 30, foi realizado no auditório do Palácio Araguaia Governador José Wilson Siqueira Campos, em Palmas, e contou com a presença de gestores, fazedores de cultura, acadêmicos e a sociedade civil. Já a programação musical segue até a noite deste domingo, 1º.
No sábado, em meio aos diversos diálogos sobre temáticas que perpassam a criatividade, o secretário Tião Pinheiro destacou o compromisso do Governo do Estado em reestruturar o setor cultural no Tocantins. “A equipe da Secretaria da Cultura está muito feliz com o resultado do Seminário de Economia Criativa do Tocantins. Cada mesa de debate foi tão instigante quanto a outra, o que foi emocionante e motivador. Quero agradecer a todos que compareceram e acredito que a sociedade civil deve participar de momentos enriquecedores como estes”, disse.
Com o som marcante da viola do buriti, a programação deste sábado, 30, começou com a apresentação dos violeiros Mestre Expedito Ribeiro, Reinan Medeiros, Wanderley Batista, Diego Brito e Nissim da Viola, que em suas canções mostraram o poder da música tocantinense e da cultura tradicional para o público. O início da manhã contou também com intervenções artísticas da Cia Final Feliz e a demonstração ao vivo da criação de quadros em diversas técnicas de pintura e de pirografia.
O painel “Fortalecimento Identitário das Culturas Popular e Tradicional por Meio da Economia Criativa” trouxe reflexões importantes sobre como preservar e valorizar as culturas tradicionais, integrando os saberes populares ao mercado cultural. A mesa contou com a mediação da gestora e pesquisadora de políticas públicas e culturas tradicionais Ciça Pereira (SP), do secretário de Igualdade Racial Adão Francisco, do diretor de Proteção aos Indígenas da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot), Célio Torkã Kanela, e de Pai William de Odé.
“É extremamente importante a gente falar sobre essa temática, considerando as nossas pluralidades, o tamanho desse nosso país, principalmente pensando em estados que fogem desse eixo sudeste. Tocantins é um estado muito potente, com diversas ações criativas, povos originários, quilombolas e indígenas. É rico estar aqui e para que a gente possa, de fato, pensar um futuro melhor, garantindo subsistência para as nossas práticas e as nossas culturas”, disse Ciça Pereira.
Com palhaçaria e diversão, a Cia TrupeAçu encantou a plateia com um pocket show do espetáculo “As Charlatonas”, que mesclou humor, fatos históricos e interação com uma mensagem sobre o papel das mulheres no desenvolvimento da humanidade. As palhaças Tapioca, interpretada por Ester Monteiro, e Girassol, por Giovana Kurovski, participaram e contaram sua trajetória circense do painel “Empreendedorismo feminino na Economia Criativa”, mediado pela cantora e compositora paraense Aíla Campos. A jornalista, pós-graduada em design de interiores e conselheira da Câmara Setorial de Artesanato do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Palmas (CMPC), Renata Brum, e a especialista em História da Arte e História do Renascimento e Pintura, Lara Faez, também compuseram a mesa de debate, que abordou o protagonismo das mulheres no setor criativo.
A agitadora cultural Aíla Campos, conhecida por sua fusão de ritmos amazônicos com o pop contemporâneo, destacou a importância dos nortistas estarem em posições de poder e gestão, bem como a relevância de um evento como o 1º Seminário de Economia Criativa. “Enquanto houver um de nós, dos nossos, nesses locais de decisão, nós vamos ter como falar da Amazônia em primeira pessoa. Aqui há uma sementinha que está sendo criada para que tenha todos os anos esse evento e tantos outros que valorizem a cultura da região Norte. Vamos nos conectar porque a região amazônica é a maior do Brasil”, explicitou a cantora.
Programação vespertina
No período da tarde, Daniel Jaber (MG), Alfredo Bertini (PE) e André Araújo (TO) se juntaram para o painel “Fortalecendo a Cadeia Produtiva do Audiovisual” e comentaram sobre os avanços e desafios do setor no Brasil. Daniel Jaber, fundador da plataforma de streaming Cardume, especializada em curtas-metragens, destacou a importância do audiovisual como uma arte coletiva e que tem grande impacto pela velocidade de propagação. Entre os principais desafios abordados, o mineiro citou ainda a necessidade de regulamentação das plataformas de vídeo sob demanda (VoD), além de questões como distribuição, divulgação e formação de público para o cinema brasileiro.O artista também elogiou a realização do Seminário e pontuou que eventos como estes são importantes para o setor cultural. “Queria parabenizar o Estado do Tocantins por fazer esse evento. Eventos como esse são importantes, pois essas trocas permitem pensar novos horizontes”, disse.
Presente pela primeira vez no Tocantins, o ex-secretário nacional do Audiovisual e fundador do festival Cine PE, Alfredo Bertini, expressou sua satisfação em participar do evento e agradeceu à equipe da pasta pela acolhida. O pernambucano disse ter ficado encantado com as apresentações regionais, a exemplo dos Tambores do Tocantins e do grupo Vozes de Ébano, que foram duas das atrações artísticas que compuseram a programação cultural do seminário. “Estou encantado porque o que já vi das apresentações de ontem e anteontem me deixou surpreso”, afirmou. O economista também refletiu sobre os desafios do setor audiovisual e enfatizou que superar obstáculos é uma constante nesse mercado.
André Araújo compartilhou sua trajetória no audiovisual com a abertura da produtora SuperOito, em 2010. Ao longo da conversa, ele contou que foi contemplado em um edital local e foi um dos produtores do longa-metragem “Palmas, eu gosto de tu”. O filme, cujo objetivo era romper com o domínio do cinema comercial, permaneceu quatro semanas em cartaz graças ao desempenho nas bilheterias. “Na época, foi o primeiro prêmio que contemplava um longa-metragem”, disse ele quando se referiu ao edital. O cineasta enfatizou ainda a importância de recursos para garantir que as produções alcancem uma audiência expressiva e citou o sucesso de Comedy Club, primeiro filme da produtora a estrear em 25 salas de cinema fora do Tocantins.
Outro painel que ocorreu no último dia de palestras foi o de Ilustração, Design e Videomapping: Soluções Criativas na Era Digital, com a participação de La Mina (RJ), Jéssica Pezenti, Luiz Izidoro e Adrians. Jéssica destacou o uso de novas tecnologias no mercado e mostrou como a ilustração pode ser expandida para diversas áreas. “É interessante que, dentro desse mercado, a gente migra para várias áreas, que acabam formando um grande mundo”, afirmou. A designer gráfica também apresentou alguns de seus trabalhos, como sua colaboração com a Nasa para a Meta, onde contribuiu com a parte visual da marca.
La Mina, artista plástica e ilustradora, agradeceu o convite e destacou a importância do momento de troca. Durante sua apresentação, mostrou sua pesquisa sobre raízes brasileiras e o que define a identidade do país. Entre seus trabalhos, mencionou colaborações com a ONU, Itaú e iFood, além do Doodle do Google em comemoração aos 75 anos da Divina Pérola Negra. “Agora, como artista, eu tenho a possibilidade de falar o que eu quero”, ressaltou.
Adrians Alves apresentou sua experiência como designer e ilustrou algumas de suas marcas, personagens e brandings. O artista defendeu o papel do design como vetor de informação e disse que “com a imagem, a gente consegue se comunicar com as pessoas. Quando eu pinto um grafite, quando é feito um trabalho comercial na publicidade, ele reverbera, se desdobra em outros significados que não se tem mais controle. A imagem é polissêmica”, enfatizou.
O VJ Luiz Izidoro, que também é servidor da Secult, abordou o conceito inicial do videomapping e as dificuldades enfrentadas, como a estrutura técnica defasada em alguns locais para projeções. Ele também compartilhou seu trabalho no palco do Festival Gastronômico de Taquaruçu e projetos autorais como Fala Olho e a série Olhos de Gaia. Criadas durante a pandemia e inspirados no “Olho que Tudo Vê”, as propostas representam o olhar da Mãe Natureza sobre o desequilíbrio humano, que combinam animações 3D manipuladas ao vivo e música para criar uma experiência sinestésica e reflexiva.
A palestra de encerramento, intitulada Se Você Pudesse Escolher Hoje o que Fazer pelo Resto da Vida, o que Seria?, ministrada por Ana Ribeiro (MA), trouxe reflexões inspiradoras para os participantes. A desenvolvedora de jogos compartilhou sua trajetória de coragem ao mudar de carreira e perseguir um novo interesse profissional. Ana convidou os ouvintes a enxergarem o futuro profissional sob um novo prisma: encontrar algo que realmente desejem fazer pelo resto da vida.
Natural de São Luís (MA), Ana Ribeiro deixou uma carreira estável como psicóloga e funcionária concursada para seguir sua paixão pela tecnologia. Após vender uma microempresa de empadas, ingressou no curso de programação em games na SAE London e concluiu um mestrado em game design na National Film and Television School (NFTS). Criadora da franquia Pixel Ripped, que une nostalgia dos jogos clássicos à realidade virtual, Ana é hoje um dos grandes nomes no universo dos games.
Presente no evento, o designer de games Erick Goés disse que foi inspirado por Ana e hoje pretende fazer um doutorado dentro da temática do desenvolvimento dos jogos. O profissional é mestre em Educação pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e também possui especializações em animação, robótica e Metaverso. “Eu sou design animador 3D aqui no Tocantins e espero fazer um doutorado inspirado no seu trabalho. E o meu trabalho “Tr@nscendências do Pequi ao Metaverso” tem sua influência também”, disse Erick, ao falar do seu último projeto – que foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo, no edital Audiovisual Tocantins, lançado pela Secult.
Apresentações artísticas
As intervenções culturais da tarde ficaram por conta dos dançarinos da Cia Juvenil de Dança, Sombras do Hip-hop e do Grupo Coletivo da Casa. Logo após, os artistas visuais Elpídio de Paula, Emanuel Vitor, Sara Gomes e Natália Araújo apresentaram aos presentes suas telas pintadas durante a programação. O fechamento da agenda foi com o grupo de capoeira de Angola “Só Angola Tocantins”, que junto ao boneco do Taboka Grande, se apresentaram no hall do Palácio Araguaia, sob o mural que retrata a história da criação do estado.
A secretária-executiva da Secult, Valéria Kurovski, destacou a importância de reunir manifestações da cultura tradicional, popular e das artes visuais no seminário e comentou os desafios enfrentados para viabilizar a participação dos artistas de forma remunerada. A gestora explicou ainda que a materialização das apresentações do seminário foi resultado de um esforço conjunto entre a pasta e a Associação Ninho Cultural.
“Apesar dos desafios, conseguimos garantir que esses artistas estivessem conosco de forma remunerada, algo que é fundamental para o fortalecimento de nossa cultura. Nossa esperança é que, em 2025, possamos ampliar ainda mais essas oportunidades, seja por meio do poder público ou da valorização pela iniciativa privada. Precisamos abrir caminhos e consolidar o reconhecimento que esses artistas merecem”, disse Valéria.
Primeiro dia de Seminário de Economia Criativa do Tocantins
Após uma manhã repleta de diálogos sobre música e o futuro da economia criativa, a tarde de sexta-feira, 29, iniciou com o painel “Caminhos para a Valorização da Produção Cultural”, com mediação da roteirista, diretora e economista Cláudia Roberta, do Cerrado Criativo/TO. A mesa contou com a analista do Sebrae – TO, Celina Soares, a coordenadora de Cultura de Porto Nacional, Dayane Fernandes, e a coordenadora do Comitê de Cultura do Tocantins, Luara Aquino, que compartilharam suas experiências e perspectivas sobre o fomento e fortalecimento da produção cultural no estado. “Esta ação é importantíssima para a valorização da cultura e da economia criativa como um todo. Esse setor alavanca, que gera um efeito multiplicador grandíssimo em todo o contexto econômico”, enfatizou Cláudia. Veja aqui como foi a manhã desta sexta-feira.
Em sequência, a plateia prestigiou uma apresentação cultural da Cia A Barraca, com participação improvisada e enriquecedora do mestre Márcio Bello, que compôs a mesa do painel seguinte, intitulado O fortalecimento do Desenvolvimento Regional através da Economia Criativa por meio de projetos socioculturais, e mediado pelo superintendente de Fomento e Incentivo à Cultura (Secult) Antônio Miranda. O debate também contou com a contribuição da diretora do coletivo cultural Varandas do Jalapão, Andrea Lambertucci, da gestora do Centro Cultural Circo Os Kaco, Marcela Pultrini, e do presidente da Federação das Quadrilhas Juninas do Tocantins, Filemon Amorim.
Para o superintendente e professor Antônio Miranda, a economia criativa também diz respeito à resistência de um povo. “Na cultura popular e tradicional, a criatividade não é só a questão da sustentabilidade econômica, é também para resistir. Cria-se para resistir. Portanto, é muito importante trazer ao debate esses temas em espaços abertos ao diálogo para a construção de políticas públicas necessárias para a promoção desses saberes”, finalizou.
Com palestras e painéis temáticos finalizados na tarde deste sábado, 30, a programação cultural do seminário segue na noite deste domingo, com apresentações de Eletra, Impacto Latino, Matheus Mancine, Marlon e Muriel, Trio Bacana, Chico ChoKolate e Pedra de Fogo, a partir das 18h, na Praça dos Girassóis.
Ascom Secult/Governo do Tocantins